Sobre entrevista da Regina Navarro Lins na TPM

A psicanalista Regina Navarro Lins deu uma entrevista incrível para a última edição da TPM, comentando questões que aborda em seus dois últimos livros, O Livro do Amor (vol. 1 e 2). No post de hoje, quer fazer alguns comentários sobre o que ela disse, mesmo sem ter lido os livros (que já encomendei). Por isso, pra aproveitar melhor meu texto, acho bom ler a entrevista dela (aliás, mesmo que não leia o meu texto, LEIA o dela).

– Embora eu, particularmente, ache que não conseguiria ter desprendimento suficiente pra ter um relacionamento aberto (pelo menos enquanto a paixão ainda está atuando, sou focada em apenas 1 foco de interesse, pra tudo na vida), concordo com ela que pode ser que pra se ter um casamento feliz e duradouro, uma união bacana e companheira, a exclusividade sexual ou até mesmo amorosa, tenha que ser abolida.

– Acho que traição é ser desleal com quem quer que seja, agir mal intencionado, enganar pessoas, passar a perna, sei lá – agir de má fé. Não necessariamente pular a cerca.

– Nossa sociedade patriarcal ainda coloca o adultério em via de mão única: o homem ter amantes fora dos relacionamentos ainda é visto com mais normalidade do que a mulher. Conheço muitos homens que ficam com outras pessoas que não são suas esposas ou namoradas, mas que não admitiriam nunca o mesmo delas. Ora, isso não vale.

– Como fomos condicionadas a ligar amor e sexo, idealizando os relacionamentos, muitas mulheres, quando buscam relacionamentos paralelos, acabam se apaixonando pelos amantes e não sabem lidar com a culpa ou frustração dessa idealização. E acabam sendo vítimas de tragédias pessoais. Uma sociedade mais sincera nos pouparia desses dramas.

– Muitos homens ainda vêem mulheres que demonstram que gostam de sexo, ou que tomam atitudes mais acertivas como fáceis. Ou, quando demonstram interesse, que vão ficar “apaixonadinhas”. Daí surgem aquelas coisas que conhecemos bem: mensagens não respondidas, sumiços, falta de comunicação e esclarecimentos, confundir relacionamentos desprendidos com frieza e grosseria.

– Acho também que existe uma intolerância imensa e falta de paciência com o outro. Como é fácil arranjar outro parceiro sexual, as pessoas magoam as outras não respeitando seus tempos, opções ou gostos com muita facilidade.

– A questão do machismo podemos aplicar pra questão da bissexualidade. Concordo com Regina que, em breve, ela será uma opção mais comum ou mais assumida. Assim como a poligamia, nao é algo que me vejo fazendo. Mas eu não preciso fazer algo para concordar com a coisa. não acham? Só que, como disse, o machismo também acaba influenciando na bissexualidade feminina, principalmente. Muitos homens vivem pedindo pra mulheres “se pegarem”, ficam excitados, etc. Mas se alguma mulher diz o mesmo sobre dois homens, eles ficam extremamente ofendidos. Enojados até.

– Vendo assim, a bissexualidade da mulher é usada apenas para agradar o homem. Uma coisa inconsciente do tipo: “elas se pegam pra mim e eu sou tão macho que elas abrem uma exceção e ficam comigo também. Domino as duas”.

– Se homens não aceitam nem o “fio terra”, imagina pegar o amigo para excitar a namorada? Então, a regra só vale pra um lado, novamente.

– Outra coisa: muita gente fala mal de feministas dizendo que não gostam de homem, são sapatões. ORA, as menininhas se pegando são legais, mas as meninas que querem igualdade são “sapatões mal amadas”? As lésbicas legais são só aquelas que se pegam ao seu comando? Eu me considero feminista (todos aqueles que são contra a opressão da mulher deveriam ser), e não sinto atração sexual por mulheres, sou hétero. E aí? Por que isso seria contraditório?

Agora, trechos que ela comenta e eu quase morri porque concordo MUITO e já fui muito criticada quando expus minhas opiniões:

– “É fundamental que as pessoas saibam que podem ficar bem sozinhas. Que se livrem dessa ideia do amor romântico, essa coisa que diz que você tem que ter um par.” – É o que eu sempre digo, e muita gente não entende porque acha que se sentir bem sozinho é excluir os outros da sua vida. Ou viver isolado do mundo. As pessoas são importantes nas nossas vidas para acrescentar, não pra completar nada. Somos seres completos. Não tem nada mais irriante do que o olhar de pena das pessoas quando alguém diz que é solteiro.

“Essa coisa de masculino e feminino são estereótipos para aprisionar as pessoas. As mulheres têm que ser sensíveis e frágeis. E os homens, corajosos e bravos. Imagina! Isso é tudo criação. Todos nós somos fortes e fracos, ativos e passivos, depende do momento.”

Em um dos seus livros, você diz que é contra o cavalheirismo. Por quê? O conceito de cavalheirismo não serve para nada, né? O que é cavalheirismo? Que vergonha! Gentileza, sim. O homem tem que ser gentil com a mulher, a mulher com o homem. Cavalheirismo implica que a mulher é incompetente para puxar uma cadeira? Ela malha, segura 10 quilos, mas não consegue puxar uma cadeira ou abrir uma porta? Cavalheirismo é um horror! Precisamos pensar sobre isso, gente! A mulher deve dividir a conta do motel com o homem? Outro dia joguei essa questão para uma amiga. E ela: “Ah, divido restaurante, cinema, mas motel não”. E eu pergunto: “Motel não por quê?”. É como se a mulher quisesse os benefícios da emancipação, mas não quisesse os ônus! Então, depois não reclama que ganha menos. >>> Olha, sempre defendi essa de dividir a conta do motel e fui criticada até pelas mulheres mais “abertas”. A última briga que tive por isso, larguei meus amigos falando sozinhos num restaurante e fiz uma saída triunfal. Acho essa de conta de motel ser do homem o mesmo que pagar por sexo. Ganho meu salário, aproveitei tanto quanto o homem. Pago também.

“Lembro que para um deles eu falava: “Tira a minha virgindade!”. E ele respondia: “Não, porque se eu tirar a sua virgindade e depois a gente se separar você vai sofrer”. E eu falava: “Pode tirar, não vou sofrer” [risos].” – Outra coisa que me irrita muitíssimo é esse papo que mulheres se apaixonam pelo primeiro, que é inesquecível. Bla bla bla bla… zzzz. GENTE, DE UMA VEZ POR TODAS: homens não estão tirando vantagem fazendo sexo, mulheres não estão fazendo um favor. Nem sempre que rola sexo rola paixão, nem sempre após o sexo, pode virar paixão. E outra, na maioria das vezes, paixão é coisa boa, não?

– “Os contos de fadas são muito nocivos” – falei mais disso nesse post

Mas o mais importante de tudo que ela falou: ela não está dizendo que o certo é ter relacionamentos polígamos ou ser bissexual. Regina não quer é que esse certo seja usado. Meus pais vivem muito bem há quase 50 anos, mas tem muita gente sofrendo com relacionamentos mal sucedidos. Assim como muita gente tem a sexualidade avaliada diariamente por suas escolhas. Isso gera sofirmento, dores desnecessárias. A falsa moral nos causa muita tristeza. A vida já é tão cheia de problemas e a gente ainda complica tudo. Moral pra mim é respeitar o próximo, gentileza, bom educação, igualdade, não julgar os outros por seus sentimentos e escolhas. No amor, no sexo, na vida.

E, como ela disse também, vivemos colocando a culpa na sociedade. Mas a sociedade somos nós. Faço um esforço diário enorme para tentar me mudar, mudar os outros. “É preciso ter coragem”. Eu acho que tenho, e vocês?

12 comentários em “Sobre entrevista da Regina Navarro Lins na TPM”

  1. Pois é… É o que eu sempre digo: o povo passa tanto tempo buscando a fórmula correta da felicidade e esquece de ser feliz. A gente jã falou sobre isso milhares de vezes. Sobre o que as pessoas consideram ou não como certo. Aliás, que certo?! Já notou que está tendo uma chuva de casamentos agora?! Pq as pessoas agora “estão na idade”. É tanto rótulo que cansa.

    1. Exatamente!!! pessoal tá na idade e tem que mostrar no facebook que casou néam? quando você casou, todo mundo deve ter pensado: tão nova… qual diferença de casar com 20 e poucos ou 20 e alguns? ou 40?
      e obrigada por comentar, porque to vendo muita gente casada, com filho e etc, criticando essa entrevista dela achando que está pregando “oba oba”. povo tem dificuldade de interpretar texto, jesus!

      bjsss

  2. Essa mulher é sensacional. Acho que tenho um pouco de coragem também. “Tamô” juntas!

  3. o melhor de tudo é que li essa entrevista no dia em que apresentei seminário sobre o livro “mrs dalloway”, da virginia woolf. tudo fez muito sentido, e olha que são quase nove décadas entre o discurso literário da britânica e a prática contemporânea nossa.

    1. caramba, que legal, tem toda razão! tem algum comentário sobre esse seminário no seu blog? (aparece o endereço aqui, fiquei curiosa)

  4. É isso !!
    Tanto tempo perdido buscando alcançar o certo. Quanto tempo jogado fora …
    Mto bom os textos, seu e dela !

  5. É por posts como esse que eu gosto tanto desse blog. Assino embaixo, a sociedade somos nós, nós precisamos fazer a mudança que queremos!

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