A poesia de D. Ivone Lara

Meu coração carnavalesco
Não foi mais que um adereço
Teve um dez em fantasia
Mas perdeu em harmonia

Aproveitando que o Carnaval taí já, vim falar de uma grande admiração, juntando música e o universo feminino, coisas que tanto gosto de falar. Apesar de ser um campo com grandes damas: das tias dos morros,  cantoras, baianas, porta-bandeiras, passistas, rainhas e madrinhas de baterias; o samba já foi um ambiente muito machista. Claro, um reflexo da sociedade, como qualquer outra manifestação cultural.

Na confecção das grandes obras, os homens sempre estiveram à frente e não havia muito espaço para mulheres. Mas uma carioca nascida em 1921 veio para quebrar esse tabu com seus sambas de melodias sinuosas e letras de extrema sensibilidade – Dona Ivone Lara.

 donaivone

É de D. Ivone o trecho acima, composta junto com Jorge Aragão (Enredo do Meu Samba) e tantas outras pérolas da nossa música. Mas nem sempre seu talento foi reconhecido. Quando começou a compor, em meados da década de 40, quem apresentava suas músicas para o pessoal da escola de samba Prazeres da Serrinha era seu primo Fuleiro (conhecido como Mestre Fuleiro, grande figura da Império Serrano). Sambas feitos por uma mulher não seriam levados em consideração pela ala dos compositores da escola.

Quando se casou com o presidente da escola, pôde mostrar seu dom como sambista, firmando parcerias com grandes mestres como Silas de Oliveira e Aniceto. Em paralelo, era enfermeira e assistente social. Suas músicas foram gravadas por nomes como Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Jorge Aragão, Maria Bethânia, Gal Costa, Marisa Monte, entre tantos outros. Hoje, apesar de já bem velhinha, continua atuante. Lembro que no Carnaval de 2011, fez um show na Lapa.

Dona Ivone Lara Foto

Acho suas letras de sensibilidade feminina, parece que ela te entende. Assim como Paulinho da Viola, é uma ótima companheira para quando não estamos lá muito alegres porque dá uma injeção de ânimo.

Mas vamos deixar de blablablá e colocar vocês pra ouvirem algumas de suas músicas (escolhi minhas preferidas):

Tristeza rolou nos meus olhos do jeito que eu não queria
E manchou meu coração, que tamanha covardia
Afivelaram meu peito pra eu deixar de te amar
Acinzentaram minh’alma, mas não cegaram o olhar
Saudade amor, que saudade
Que me vira pelo avesso, e revira meu avesso
Puseram uma faca no meu peito
Mas quem disse que eu te esqueço
Mas quem disse que eu mereço

 

Também tem essa com gravação clássica da Gal e Bethânia (aqui um vídeo com a própria dona Ivone e ainda com a violonista Rosinha de Valença):

 

E mais essa, das mais famosas, um ótimo “samba revoltado”, hahaha:

 

E esse vídeo delícia com o Diogo Nogueira, que dona Ivone Lara não é boba e ainda faz charme pra ele:

 

PS.: Gostaram? Tem esse post também sobre a Clara Nunes!

2 comentários em “A poesia de D. Ivone Lara”

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